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sexta-feira, 22 de setembro de 2017

A teoria do caos

"Para superar o mau momento, será suficiente à equipa do Benfica unir-se, comprometer-se e revoltar-se?

Não está o Benfica num bom momento e não está num bom momento desde logo porque não conseguiu uma única vitória nos últimos três jogos. Para uma equipa como a do Benfica estar três jogos sem ganhar é logo um pequeno drama. Ainda por cima, e ao contrário do que acontece nalguns outros grandes clubes, no Benfica os adeptos não são muito dados a sofrer. Quando se veem a sofrer descarregam na equipa. Exigem tanto que rapidamente põem tudo em causa. O que também é dramático.
Os adeptos veem a equipa jogar menos do que gostariam e pressionam; a equipa joga menos e por isso não ganha; e como não ganha perde confiança; e como perde confiança está mais insegura mais os adeptos cobram; e quanto mais os adeptos cobram mais a equipa se fragiliza. Pode ser um 31 !

O Benfica não está a jogar bem e se não for capaz de reconhecer isso a coisa pode complicar-se ainda mais. O Benfica não ganhou qualquer dos últimos três jogos e curiosamente esteve a ganhar em todos eles. O que é preocupante. A ganhar ao CSKA e ao Boavista deixou-se derrotar por igual resultado (1-2) e a ganhar ao Braga deixou-se empatar.
Ou seja, pior do que não ter chegado à vitória foi ter estado em vantagem e acabado por desperdiça-la. Creio que é essa a principal reflexão que a equipa deve fazer.
O Benfica faz o mais difícil, que é ficar por cima no jogo em matéria de resultado; onde está então o seu cavalo de Troia? No controlo do jogo! Será essa a questão chave.
Dificilmente o Benfica não faz pelo menos um golo por jogo. Sobretudo pelo talento dos jogadores que tem e pela predisposição ofensiva do seu ADN. Ora se faz sempre, ou quase sempre, golos tem de saber controlar o jogo e o adversário de modo a não desperdiçar o que tanto lhe custa a ganhar, que é a vantagem.
O que na verdade este Benfica tem tido mais dificuldade em conseguir e mais ainda quando não tem Fejsa, porque Fejsa é verdadeiramente a bússola do meio-campo encarnado.
O que se em visto é, pois, um Benfica a defender pior e que defende com menos gente em todo o campo e que portanto se torna tacticamente mais vulnerável e frágil, um Benfica que não faz pressão alta, um Benfica que dá mais espaço, que deixa jogar com mais facilidade, e que mostra igualmente maior dificuldade mesmo quando recupera a bola porque a transição é mais lenta e, portanto, menos capaz de provocar desequilíbrios no adversário.

Escrevi-o logo após a derrota com o CSKA, mas ainda antes de perder com o Boavista e empatar, agora, com o Braga: este Benfica tem menos intensidade, ofensivamente amontoa jogadores nas zonas interiores, perde com isso profundidade, revela pouca dinâmica, os jogadores procuram menos o espaço e o seu jogo torna-se mais previsível, mais lento e muito menos criativo.
Parece que lhe falta cérebro, e mesmo quando dá ideia de querer fazer um pouco mais logo se torna mais evidente que pensa de menos. E que é menos sólido do que apesar de tudo, já conseguiu ser com Rui Vitória. Ou seja, este tetracampeão está mais fácil de dominar.
Claro que tem o Benfica tempo mais do que suficiente para reverter este cenário. Mas o tempo não chega. Tem tempo mas não se vê, por agora, como.
E é isso que preocupará os adeptos.
Há momentos no futebol em que os problemas são muito mais emocionantes do que técnicos. Mais de liderança (ou da falta dela) e de capacidade de influenciar o jogo do que propriamente tácticos. Muitas vezes são problemas de clima, de atmosfera, de harmonia. De as coisas fazerem ou não fazerem sentido. De se compreender do lado de fora determinadas opções do treinador lá dentro. Ou de se sentir de forma mais ou menos positiva aquilo de que uma equipa é ou não é capaz.
O que se passa na Luz passa também por isso, pela instabilidade que a própria equipa começou por mostrar de dentro para fora e pela menos compreensão de algumas das decisões tomadas pelos responsáveis.
Estruturalmente, na definição estratégica da época.
Conjunturalmente, nas opções do treinador.

Para agravar o problema, a defesa tem estado mais instável que nunca, Jonas joga abaixo do seu nível e está um ano mais velho, Pizzi também baixou de rendimento, Rafa não há meio de dar aproveitamento às fantásticas características que tem, Gabriel Barbosa ainda só mostrou vontade, Cervi parece condenado a continuar de fora e mesmo Zivkovic não deve conseguir perceber se é titular ou não, Salvio e Fejsa debatem-se com as lesões, Samaris continua demasiado nervoso talvez pela instabilidade da sua posição na equipa e Filipe Augusto tem em generosidade o que lhe falta em criatividade e dimensão para construir e responder às exigências de uma equipa de grande dimensão.
No jogo de quarta-feira, com o Braga, Filipe Augusto pode mesmo ter cometido o pecado capital de se deixar levar, de algum modo, pela ideia de confrontar uma plateia que o assobiava. Não foi responder aos adeptos com aplausos que lhe ficou mal; mal ficou-lhe ter demorado tanto a sair do campo no momento da substituição, como se estivesse a ganhar. E não estava.
E os adeptos ainda reagiram pior. O que é normal.

É neste clima de relativa desconfiança (os adeptos na equipa e a equipa nela própria) que o Benfica enfrenta uma semana, no mínimo, chata. Para não dizer outra coisa. Paços de Ferreira na Luz, Basileia na Suiça e Marítimo no Funchal, três jogos em nove dias para definir o ciclo e medir a tensão.
Ou ganha e, como sempre, afasta as nuvens, ou não ganha e, também como sempre, o caso tenderá a ficar bastante mais sério. E mais difícil de resolver. E mentalmente mais contaminada a equipa ficará.
Qual é o remédio? Ganhar!
Mas será suficiente a equipa unir-se, comprometer-se e revoltar-se, como já fez com Rui Vitória na Luz?
Desta vez, é difícil imaginar que chegue.
A não ser que um qualquer pequeno imprevisto traga consequências fantásticas para a equipa. O designado fenómeno caótico ou casual, como está definido na... teoria do caos!
(...)"

João Bonzinho, in A Bola

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