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terça-feira, 19 de setembro de 2017

As idiossincrasias de Ivic

"Quis receber o ordenado em dólares, falava com jogadores russos sem intérprete e 'emagreceu' o campo da Luz.

Estávamos no verão de 1984, Eriksson tinha saído do Benfica para treinar o AS Roma e Fernando Martins precisava de um novo técnico para orientar a equipa principal. O eleito foi o croata Tomislav Ivic. Considerado 'um dos grandes estrategas do futebol moderno', vinha do Galatasaray e já tinha sido campeão nacional pelo Ajax e levado o Anderlecht às meias-finais da Taça dos Clubes Campeões Europeus.
A 17 de Julho, aterra em Lisboa. Apresenta-se ao trabalho dia 19, dirige os primeiros treinos, dia 29 orienta a equipa no jogo de apresentação e uma semana depois enfia-se num avião e regressa a casa! Em causa estava uma cláusula do contrato que dizia que o treinador iria receber em escudos, quando o que lhe dava mesmo jeito era receber em dólares. Fernando Martins não aceitou e Ivic, apesar de já estar de contrato assinado, virou as costas a tudo e foi substituído por Toni. Dias depois o ex-técnico confessava-se arrependido e com esperança de um dia poder regressar. Esse dia chegou, 8 anos depois...
A 9 de Junho de 1992, Ivic chega novamente à capital portuguesa e as expectativas continuavam elevadíssimas, mas esta história não estava destinada a um final feliz. Primeiro pediu ao presidente que colocasse Shéu Han como adjunto em vez de Toni. Jorge de Brito não aceitou a exigência, mas o mal-estar na equipa técnica estava instalada; durante um estágio na Suécia tomou de ponta o russo Yuran, com quem insistia em conversar sem recurso a intérprete - convém lembrar que Yuran não falava português e que Ivic se expressava simultaneamente em espanhol e italiano; e um dia, já em Portugal, teve uma ideia brilhante: encurtar o campo do Estádio da Luz para ser mais fácil fazer pressão e chegar à baliza do adversário! Na 3.ª jornada os 'encarnados' receberam o Salgueiros e não só o desempenho da equipa foi sofrível como o súbito emagrecimento do campo não ajudou. O jogo terminou num empate a zero.
A 27 de Outubro, Jorge de Brito coloca um ponto final na era Ivic por 'manifesta falta de adaptação do treinador às características do futebol do Benfica'. Toni é, novamente, o homem chamado para a linha da frente e assim se manteve até 1993/94, época em que se sagrou campeão nacional.
Para saber mais sobre o percurso de Tomislav Ivic visite a área 25 - Mestres da Bola, no Museu Benfica - Cosme Damião."

Marisa Furtado, in O Benfica

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