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sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Oficiais e cavalheiros

"O futebol português há muito que convive mal com a liberdade de expressão. Em primeira instância, com a externa, pois está cada vez mais na moda digital fritar no espaço internáutico quem tem uma opinião contrária à oficial - e há quem ganhe a vida só a fazer isso. Depois, em segundo lugar, os clubes têm imensas dificuldades em conviver com a liberdade de opinião dos seus jogadores. As entrevistas aos futebolistas, que não as intervenções obrigatórias, são cada vez mais raras e escrutinadas pelos respectivos departamentos de comunicação.
Bem sei que quem passa muito tempo a olhar para o seu umbigo raramente consegue ver a linha do horizonte, mas, neste caso, convinha. O exemplo veio de Itália e de dois grandes que disseram adeus à squadra azurra depois de hecatombe de não terem conseguido abrir a porta do Mundial da Rússia. Um deles, então, é um monstro: Gigi Buffon. Numa era em que olha mais para a forma e pouco para o conteúdo, muitos olharam para o choro convulsivo e não discerniram os motivos. Mas, ele, em palavras, explicou. «Não estou a chorar por mim mas por toda a gente e pelo impacto social negativo que este falhanço pode ter», disse, quem, 175 jogos depois, se despedia da selecção italiana.
Daniele De Rossi também mostrou que pensa pela sua cabeça. Primeiro, disse ao seleccionador que não fazia sentido ser ele a entrar quando ao lado estava Insigne. Era mais ou menos óbvio que a Itália precisava de ganhar o jogo e de criatividade no ataque para derrubar a muralha sueca e um médio, como ele, pouco acrescentaria. No final do jogo, foi ao autocarro dos suecos, deu-lhes os parabéns pelo apuramento e pediu-lhe desculpa pelos assobios ao seu hino.
Dois generais de campo deram o exemplo. E é só aí que se ganham as divisas. Não é fora dos relvados, com exércitos de soldados rasos televisivos ou digitais."

Hugo Forte, in A Bola

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