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domingo, 22 de abril de 2018

Vamos renovar o Futebol?

"Aproxima-se o final de mais uma época e nada mais oportuno do que pensar futebol, identificar pontos fracos, alavancas de desenvolvimento e projectos estruturantes e sustentáveis. Abandonar o ancestral erro de pensar e decidir sobre o joelho, por repentes e momentos, quase sempre com a ignorância e a obsessão como companhias desaconselháveis.
Na pirâmide do futebol está o Presidente da FPF. Não é aí que reside a prioridade das prioridades. Isso é unicamente uma consequência, um facto.
O essencial é conhecer o futebol, os seus contextos, as realidades e problemas, bem como a forma e o plano para superar limitações graves e evitar erros sistemáticos, com um rumo definido, para prazos alargados.
Como qualquer “produto” (arrepia-me usar essa palavra para designar, neste caso, o futebol) é importante criar um universo estável, atractivo, de confiança, e prestigiante. Um compromisso envolvente e urgente.
Particularmente, sem tiques de poder ilusório e uma grande capacidade para saber interpretar os sinais dos tempos. Há marcas que têm a capacidade de pulverizar o tempo… Outras perdem-se num lapso curto, sem memória, ainda que com consequências nefastas, com a pouco recomendável companhia de impunidades.
Claro que as vitórias são mais importantes do que as derrotas ou empates, mas estes não podem criar climas de “guerra contínua”, de desvalorização sistemática. Desse modo, há sempre mais prejuízos e sementeiras de violência.
Os dirigentes têm de ter sempre a noção de que o nosso futebol tem um potencial único em talento, desde as camadas jovens: vejam-se os percursos das nossas selecções nacionais jovens, todos os anos. 
Falta o mais fácil: organização e diálogo. Bom senso também. Se só um pode ser campeão, em cada prova, há que assumir a competição com o máximo rigor.
A mudança de comportamentos nos adultos não é nada fácil. Mas é possível, útil, agradável e com sentido.
Alterar regulamentos por hábito, sem encontrar entendimentos e relacionamentos para que o nosso futebol seja cada vez melhor, mais competitivo, mais lucrativo, não é o caminho certo.
Ser adversário não pode implicar agressividade desmedida, insegurança, destruição e conflitualidade sem nexo ou por vício.
Por isso reafirmo que o nome do Presidente da FPF não é essencial. A não ser que consiga tornar o futebol no seu todo, como objectivo principal e credível, mesmo internacionalmente, sem jogos ou trocas de “cromos” de colecções com prazos vencidos.
Pensar global, agir e desenvolver local.
Com decisões coerentes, justiça imparcial, regras e responsabilidades assumidas pelos clubes e adeptos, sem desvios de focos laterais mas com o objectivo na qualidade do jogo, podemos avançar com segurança.
O Futebol é arrebatador, identificador, emocionante e sempre um espaço de paixão. É isso também que o torna imortal. “O poeta Herberto Helder (1930-2015) lembrava que os gregos antigos não escreviam necrológios. Quando alguém morria perguntavam apenas: “Tinha paixão”? Para eles, tudo devia estar provido de paixão e tudo aquilo que não estivesse era censurável.” (in Gustavo Pires, “O Páthos Olímpico”, A Bola, artigo 86).
Algumas sugestões:
- Auditorias às diversas entidades que tutelam o desporto a nível nacional e regional bem como aos clubes e aos órgãos de classe da Assembleia Geral da FPF. Conhecer bem o estado da “nação” do futebol.
- Plano de crescimento quer do número de praticantes e clubes quer da qualidade competitiva.
- Mudança de paradigma do actual e errado modelo de formação para todas as modalidades, permitindo a concorrência pela especificidade.
- Qualificação estruturada dos treinadores de formação. Tenho a impressão que estamos a regredir velozmente em vários aspectos e a formação é um deles.
- Alternativas de formação e de carreira para realidades diversas. Não esquecer de criar condições para preparar futuros para profissionais de futebol
- Possibilidade de associação de Associações Distritais/Regionais.
- Erradicar “gorduras” desnecessárias como entidades de cúpula sem racionalidade nem verdadeira legitimidade democrática (tipo Confederações…que só atrapalham).
- Definição de perfis para Presidentes de entidades de nível nacional (e não só), com critérios objectivos e transparentes.
- Mesmo com a legitimação prática (desconheço se legal) de lobbying, agir célere contra tentativas de controlo monopolista (seja de órgãos federativos, judiciais ou governativos, clubes mais pequenos, comunicação social).
- Abandonar de vez o confronto personalizado entre FPF e LIGA.
- Reduzir a “sacralização” desviante de meios tecnológicos (VAR - condições idênticas para todos ou então, é injusto e menosprezante!) e reforçar a formação de qualidade humana, ética e técnica dos árbitros. Usar estratégias para detecção de talentos e potenciá-los.
- Conseguir que os diversos agentes desportivos deixem de vez o “cinismo nos mind games” que são tristes, nada edificantes e lamentáveis. Ética sem falsas modéstias, sem hipocrisias ou egocentrismos preocupantes.
- Não “matar as galinhas de ouro”: ou seja, atender ao número de jogos adequados por época para que a representação da Selecção Nacional seja importante e prestigiante. Por outro lado atender às necessidades dos clubes em função de receitas de que necessitam.
- Criar em cada distrito, torneios abertos onde as escolas podem participar (já foi realizado com sucesso) bem como torneios intermunicipais, ainda um tesouro para crescer bastante mais.
- Acabar com o vírus da centralização que atrofia o país há séculos e cria uma capital que se apodera abusadoramente de bens que deveriam ser distribuídos por várias regiões, que até no projecto hat-trick da UEFA se manifesta. Os grandes investimentos continuam em Lisboa, enquanto que a melhoria significativa e generalizada dos espaços desportivos pelo país se vão adiando (ver situações na Taça de Portugal em que os clubes não podem jogar no seu campo por “falta de condições” para receber os clubes com mais “estatuto (?)”).
- Há sempre muitos outros pormenores e grandes adiamentos sucessivos que se vão mantendo. A velocidade das alterações conjunturais hoje é invulgar, bem como a possibilidade de impedir o complexo dos “pequenos ditadores”.
- O futebol merece muito mais “Porque do Desporto emerge um legado admirável de normas, de valores, de ideais, de hábitos, de ritos, que civilizam, que humanizam”. (in Manuel Sérgio, “O Desporto: Educação e Cultura”, A Bola, artigo 238).
O futebol é um bom exemplo de renovação imparável: das capacidades técnicas às construções tácticas, das estratégias aos novos equipamentos, das emoções aos estádios, da paixão que nunca reduz à bola que sempre seduz."

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